quarta-feira, 13 de abril de 2011

As guerras no Vietnã

É incrível o Vietnã! Na nossa programação, tínhamos deixado mais ou menos duas semanas para ele. É pouco! O país merece no mínimo três! E no fim, pra nós muita coisa ficou pra trás e o Vietnã faz parte da lista dos países para os quais eu quero muito voltar.

O Vietnã foi a primeira nação comunista onde estive. Curiosamente, participa do mercado mundial como qualquer outro país capitalista. Embora haja apenas um partido político – o Partido Comunista, claro – há eleições para que o povo escolha entre certos membros do partido aquele por quem querem ser governados. Contudo, a pessoa mais importante do governo é o presidente do próprio partido, e este não é o povo que escolhe.

Tirando isso e o fato de que o Facebook é bloqueado no Vietnã, em princípio o povo não me pareceu tão podado nas suas liberdades; em princípio. Liberdade de consumo, por exemplo, eles têm. Irônico?

Ho Chi Minh – ou “Uncle Ho” –, o grande responsável pela instauração do comunismo no país, tinha grandes qualidades. E uma das coisas interessantes que ele promoveu foi a reforma agrária. Depois de ter desapropriado as terras, ele as redistribuiu de forma justa. Cada família recebeu seus campos de arroz igualitariamente: um de boa qualidade, um nem tanto, um de pior qualidade, sem importar que não estejam lado a lado os pedaços de terra que pertençam a uma mesma família. A prioridade era a distribuição justa.

Não há como negar que os Vietnamitas são um povo lutador – e vencedor! Mal tinham vencido a guerra pela independência contra a França em 1954, um ano depois os EUA já estavam no país. Tendo perdido já três batalhas contra o comunismo (a invasão da Baía dos Porcos, no sul de Cuba; a construção do muro de Berlim; o estabelecimento de acordos entre o governo Pró-Ocidente do Laos e seu movimento comunista, contra a vontade americana), no começo dos anos 60 os States decidiram colocar tudo na guerra contra o Vietnã (principalmente o sul – o país estava dividido em dois e no norte Ho Chi Minh já tinha estabelecido a nação comunista), pois mais uma batalha na sua política do “containment” (conter o comunismo no mundo) eles não iriam perder. Nas palavras de Kennedy, “agora nós temos um problema pra fazer com que acreditem no nosso poder novamente, e o Vietnã parece ser o país para tal” (tradução livre).

Essa guerra foi cruel... O War Remants Museum, na Ho Chi Minh City (antiga Saigon), explica e mostra tudo muito bem. Meus olhos se encheram de lágrimas várias vezes e a tristeza estava estampada na cara de cada um dos visitantes do museu. Chega a dar uma raiva generalizada dos americanos, e tu te perguntas como hoje o Vietnã consegue manter relações diplomáticas com os EUA (desde 1995). Mas aí há que se pensar nas palavras do próprio Ho Chi Minh: ele deixou claro aos vietnamitas que a guerra era obra do governo americano; que eles não perdessem o respeito pelo povo americano em geral.

A guerra chegou ao norte, pois era por lá que vinham os armamentos e mais pessoas para lutar ao lado dos Vietcongs. Nessa região ficamos uns dias numa fazenda e conhecemos a mãe da nossa anfitriã, que lutou na guerra, andou quilômetros carregando artilharia mais pesada que o seu próprio peso, e levou dois anos para percorrer duzentos e poucos quilômetros de volta pra casa. Vimos ainda crateras feitas pelas bombas, hoje usadas como “fish tanks”.

Entre agente laranja com consequências que se fazem sentir até os dias atuais, muita morte e destruição, a partir de 1973 os EUA começaram a se retirar do país, e em 1975 deu-se a unificação do Vietnã, vitória ainda celebrada!

Hoje a guerra do Vietnã é outra. Embora a indústria turística venha crescendo ano a ano e portanto o país esteja mais e mais preparado para o turismo (há que se dizer, contudo, que o foco primordial deles é o turismo local; pouca coisa em inglês, por exemplo), o trabalho informal ainda alcança a imensa maioria da população e é fácil encontrar crianças trabalhando nas ruas. Além dos seus desafios econômicos, falta ao povo do Vietnã liberdade de religião, de associação, de imprensa.

Chama a atenção um país em que 80% da população se diz budista ter bem menos templos em comparação a outros países de maioria budista, e o fato de que não se vê nenhum monge na rua. Teme-se que a religião “domine” mais que o comunismo, controle mais o povo, por isso a religião nunca foi muito estimulada pelo governo. Hoje a lei vietnamita exige que os grupos religiosos sejam registrados e que operem estritamente sob controle governamental. Quem faz parte de igrejas/templos não registrados é considerado subversivo e por isso preso. Até mesmo líderes de religiões registradas que propõem mais liberdade religiosa são perseguidos.

Liberdade de imprensa é outra coisa que não existe. O governo controla tudo, até as artes que podem ser expostas no Museu de Artes da capital, Hanoi. Está proibida a publicação e divulgação de conteúdo de crítica ao governo, tendo este prendido blogueiros e ativistas políticos que o fizeram na luta por direitos fundamentais. Eu já falei aqui que o Facebook é oficialmente bloqueado, embora se tenha que admitir que é muito fácil burlar isso. Até eu, que não sou TI, dava meu jeitinho. Oficialmente, internet cafés têm que obter identificação com foto dos usuários e ainda monitorar e armazenar informação sobre suas atividades online, mas é fato que nas áreas turísticas eles mudam o endereço do proxy (o De me ajudou nessa!) e consegue-se acessar os saites de mídia social sem problema.

De qualquer forma, a maioria desses dados eu fiquei sabendo ao ler relatórios de direitos humanos sobre o Vietnã. Como turista apenas, não se nota essa falta de liberdade claramente. E eu soube por pessoas que moram lá que a maioria da população é alienada (no sentido mais clássico da palavra), e na sua ignorância são felizes e não reclamam da vida ou da política do país.

Outra coisa que me chamou a atenção nas minhas leituras foi o fato de que em 2009 o Vietnã negou 45 propostas da ONU no sentido de diminuir as restrições na internet, autorizar mídia independente ou reconhecer que os cidadãos têm o direito de expressar suas opiniões, por exemplo.

É... o Vietnã é este país contraditório, incrível, interessante, difícil de entender! Entre cavernas, formações rochosas belíssimas, praias, povos étnicos, costumes exóticos aos olhos ocidentais, muita história e mesmo uma “não simpatia” natural do povo das cidades, tem um sentimento que me foi despertado profundamente: a vontade de passar mais tempo lá, absorver mais as nuances do país, entender suas peculiaridades, conhecer melhor seus povos... Entrei no Vietnã com muitas curiosidades e saí com inúmeras perguntas; sigo lendo e pesquisando... Algumas consegui responder, outras ainda não. Em meio às minhas incertezas e dúvidas, uma coisa é certa: ao Vietnã voltarei!


4 comentários:

  1. Tá virando Hacker, é? hahahaha
    Então, esse post eu ainda não tinha lido. Muito legal saber das características de tão divulgado e pouco conhecido país. Bjs

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  2. @Vítor: Da-lhe, bro! Gostei da definição: divulgado porém pouco conhecido! Valeu!

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  3. vietnã, povo valente, venceram a guerra contra os Estados Unidos, com toda sua potencia e armamento bélico. valeuuu, sou fâ incondicional daquele pais. fuiii

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    1. Oi, Mauro, tb sou fa! Nao vejo a hora de poder voltar la e conhecer outros cantos desse pais tao ecletico!

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