quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Muçulmana, Moderna, Malásia


Coloque as três palavras acima na ordem em que quiser! O post de hoje é sobre esse país que é muçulmano e moderno; é sobre as Mulheres Modernas da Malásia Muçulmana; ou as Mulheres Muçulmanas da Moderna Malásia; sobre as Mulheres Malasianas que são Muçulmanas e Modernas enfim!

Vale antes destacar que o Islamismo é a religião oficial do país - 60.4% da população se declara muçulmana. Inclusive há cortes judiciais especiais para os Muçulmanos, cujos julgamentos seguem a Sharia – não as leis civis - em casos envolvendo casamento, herança, divórcios, apostasia, conversão religiosa, entre outros. Interessante, não?

Logo que chegamos à Malásia, me chamou a atenção ver as mulheres de lenço na cabeça – o hijab – vestindo justas calças jeans. Comparando com Lombok, Indonésia, onde as mulheres muçulmanas só podem vestir roupas justas pro marido, logo vi que aqui as pessoas deviam ser mais “mente-aberta”.

Aí, no nosso primeiro dia resolvemos conhecer a Mesquita Nacional. Chegamos bem no horário em que visitas só eram permitidas aos de religião muçulmana. Aproveitamos o tempo de 1h e meia pra ir no Museu de Artes Islâmicas e voltamos no horário adequado. Tivemos que vestir um manto comprido e recebi intruções claras pra cobrir o meu cabelo com o capuz. Bonito o salão principal da mesquita e a própria construção em si, diferente do estilo mouro que encontramos nos países árabes. Mas o que fez a visita valer muito foram mesmo os folhetinhos sobre o Islam que estavam expostos na saída do salão de oração, vários deles, dos quais podíamos pegar os que quiséssemos. Escolhi três envolvendo a situação da mulher, um deles especificamente sobre o modo de vestir pregado e defendido pelo Islamismo.

Eis algumas das frases que me fizeram refletir (minha tradução livre do Inglês):

“A mídia e os políticos do Ocidente falam do Islam como sendo contra os direitos das mulheres; destacam práticas políticas e culturais que embora ocorram em terras muçulmanas não têm a ver com o Islamismo.”

“Eles sequer poupam o hijab, a vestimenta das mulheres muçulmanas, dizendo que é prova da submissão das mulheres no Islam.”

“O efeito tem sido contrário – Islam é a religião que mais cresce no mundo. Mais mulheres estão vestindo o hijab. Muitas o vêem como sinal da sua identidade muçulmana e da sua liberação do estilo de vida ocidental, que escraviza as mulheres à indústria de cosméticos e à moda.”

“O Islamismo não impõe regras sobre o estilo de se vestir, apenas ensina homens e mulheres a serem humildes nisso.”

“A roupa dos muçulmanos deve ser larga o suficiente para esconder as formas do corpo.”

“Os críticos ocidentais dos direitos das mulheres no Islam demonstram sua hipocrisia ao silenciarem sobre a indústria pornográfica de bilhões de dólares que trata a mulher como objeto, como algo sem valor.”

Concordo que nós, mulheres ocidentais, somos escravas da beleza, nos preocupamos excessivamente com isso. Mas e a mulher muçulmana também não tem vaidade e não se preocupa em estar bonita? Aqui na Malásia está claro que sim. Basta caminhar na rua ou nas estações de trem pra encontrar várias meninas com suas calças jeans (justas, como eu disse), sapatos bonitos e o lenço da cabeça cheio de detalhes, jogando com a roupa que vestem, fazendo o maior estilo. Isso não parece causar furor ou ofensa na sociedade malasiana, nem ser visto como afronta à religião muçulmana aqui. Parece que há um diálogo intercultural na Malásia que funciona, que leva a um caminho do meio entre o modo de vestir do Islamismo e a sociedade atual com seus padrões de beleza e moda.

Também fiquei pensando: não é a vaidade algo inerente ao ser humano? A gente não vê em museus peças magníficas de jóias superantigas, roupas bem trabalhadas? E em filmes e livros, não importa o contexto em que a história se passe, sempre a exaltação à beleza, a jóias preciosas, a roupas ou sapatos valiosos? Me lembrei até daquela cena do filme Sex and the City 2, mesmo não sabendo se é pura ficção ou se tem algo de real, em que mulheres com burka vestiam por baixo roupas de grandes estilistas como Dior ou Dolce&Gabbana. Não duvido nada que as esposas dos sheikes, que têm dinheiro, realmente vistam roupas caríssimas por debaixo da burka...

É uma pena que não seja fácil conversar com algumas dessas mulheres! Eu teria adorado! Mas aqui teria que se ter a sorte de encontrar alguém mais aberto, disposto a conversar com turista (o povo malasiano não é tão aberto quanto os balineses, por exemplo), e que fale inglês! Na primeira vez que passei por uma mulher vestindo uma burka preta, só os olhos dela sendo visíveis, nem foi na Malásia; foi no aeroporto de Jakarta, Indonésia. Quando estávamos passando uma pela outra, ela com o marido, disfarcei a curiosidade e não fiquei olhando pra ela. Depois, olhei pra trás, e ela também. Trocamos olhares curiosos, mas nenhuma palavra.


No fim das contas, me pergunto: qual é a diferença entre as mulheres do Ocidente e do Oriente, se todas querem estar bonitas, se ficam contentes quando adquirem uma roupa nova ou um acessório estiloso, se são vaidosas e prezam pela sua beleza?

Quanto mais eu me deparo com a diversidade do mundo, mais eu constato que no fundo – na essência – somos todos muito parecidos!

9 comentários:

  1. LEGAL DULCE!!!!! Teus posts sao D +, beijo

    MPerna

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  2. Gostei muito das observações, filha. Cada mulher "escrava" a seu modo. Veja só: agora depois dos 50, bem que eu gostaria de usar só roupas que não mostrassem as formas, hahaha!

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  3. Querida Dulcinha,

    Seus textos são excelentes!!!! Este sobre as mulheres da Malásia está precioso!!

    Beijoss,
    Angela

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  4. Pois então, eu acho que aquela cena do filme é muito real! Vocês devem ter ir nas Petronas Towers em Kuala Lumpur e visto o imenso shopping de luxo que tem nos andares de baixo.
    São só lojas de estilistas famosos, caríssimas e vendendo roupas extremamente elegantes.
    Quando eu estive lá, vi inúmeras mulheres (muçulmanas, é claro) comprando nessas lojas e percebi que sim, elas usam as roupas de "grife" por baixo dos panos largos - que aliás também são sempre estilosos, vi tanta mulher bem vestida pela cidade toda!

    Kuala Lumpur realmente tem esse lado moderno.. é uma cidade rica. Mas será que o resto da Malásia, que não tem todo esse dinheiro, também tem esse lado moderno? Já ouvi dizer que não, mas preciso voltar pra lá pra confirmar. :)

    Concordo com você em que o ser humano é vaidoso na sua essência. E a beleza, das coisas e das pessoas, é muito valorizada - até para os animais, não é mesmo?! hehe

    Eu só sou contra qualquer tipo de regras, seja da beleza/moda ou da religião.
    Bom mesmo é ter liberdade pra poder vestir um biquini, mostrar o cabelo, mas também de sair descabelada e de pijama na rua quando der vontade e não se desesperar por estar uns quilinhos acima. Ponto pra Nova Zelândia! ;)

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  5. Quanto comentário legal! Valeu, gente!
    Cris, as fotos foram todas batidas nesse shopping ou no parque ali de trás! Tb tenho mta vontade de conhecer outras partes da Malásia! Next trip! :)

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  6. Hahaha, tua mãe é ótima!!! Eu, depois de acabar de ter o segundo filho, também gostaria de usar roupas que não mostrassem tanto as formas...
    Du, excelente............
    Bjs bjs bjs Dani.

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  7. Pois é, qdo estive em Dubai vi muuuitas mulheres muçulmanas segurando bolsinhadas Dolcce&Gabanna, Prada, etc. e de saltao e calça jeans por baixo das burcas. Aqui tenho uma empregada muçulmana e ela tbem vem de burca, mas com a roupinha indiana delas por baixo, qdo chega aqui tira a burca e trabalha com a roupa normal, mesmo com o patrao em casa. Percebe-se claramente q a opçao é independente de classe ou instruçao, no sentindo q os mais ricos e provavelmente mais viajados sabem como as pessoas tem liberdade de se vestir no resto do mundo.
    Muito legal o seu blog Dulce. Estou adorando!
    Beijos, Scheila

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  8. @Sheila: Adorei o teu feedback! Valeu!
    @Dani: Até tu, amiga! hehe

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  9. Pois é, Du. É o que eu sempre me pergunto: até que ponto nós ocidentais somos escravas da cirurgia plástica? Dos silicones e megahair??

    Tens que escrever um livro sobre as mulheres e o multiculturalismo, continua a tua dissertação!!
    Sério, seria um exercício de conscientização pra gente;)
    bjo

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