segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Bali dos contrastes

Depois de passar por Sydney, chegamos na Indonésia. Que loucura estar na Ásia! Já no aeroporto se sente o choque Ocidente-Oriente e a diferença país desenvolvido-país em desenvolvimento.

Mas eu quero falar mesmo é dos papos que batemos com os motoristas de táxi. Pra começar, os indonesianos em geral falam pouco ou nada de inglês! Mesmo aqui em Bali, lugar tão turístico, às vezes é difícil se fazer entender. Ou seja, os motoristas de táxi, apesar de falarem pouco inglês, são os que melhor falam!


O trânsito aqui é muito louco: motocicletas, carros, pedestres, bikes, todos se misturam, passam fino um do outro, e pros locais tudo parece absolutamente normal, enquanto a gente, dentro dos táxis, no começo em alguns momentos perde a respiração! Agora, entre Natal e Ano Novo, tem muuuita gente e muito veículo na rua, então alugar carro ou motinho por enquanto nem pensar! Eu não me arrisco! Por isso táxi é a melhor opção. Pegamos tanto na nossa chegada, em Jakarta, quanto aqui em Bali pra ir de um lugar a outro. E no fim é uma ótima oportunidade pra conversar com gente daqui!


Hoje de manhã pegamos (eu, Decarlos, Ângela e Camilo, nossos amigos de Wellington que estão por aqui!) um pra ir de Nusa Dua a Sanur, onde passaremos a virada. De cara, o motorista, o Dira, nos chamou a atenção: não era um balinês tão calmo quanto os que vimos por aí. Mas como todo balinês, gosta de conversar e é simpático e risonho! Aproveitamos e enchemos o cara de pergunta!


Do nosso papo duas coisas me chamaram mais atenção. Uma é a dureza em que ele vive. Negociamos o preço da viagem e ele apareceu com um carrão. Claro que não era dele, mas do “boss”, um chinês. E ele estava nos falando que só 20% do que pagamos fica com ele. Ele mora numa casa de um quarto (se é que a casa em si não é uma peça apenas), e ele dorme na mesma cama com a esposa, o filho de 9 anos e a filha de 5. Paga 300.000 rúpias por mês (mais ou menos US$33,00). Na negociação, ele começou dizendo que normalmente esta viagem de Nusa Dua a Sanur custa $150.000 rúpias, mas como tinha trânsito ele teria que cobrar 200.000 da gente. Nem tentamos negociar. A pobreza contrasta tanto com a riqueza dos resorts na beira da praia aqui que eu nem tenho mais vontade de barganhar quando estou lidando com locais; quero mais é pagar o que eles pedem. Digo isso porque há um quase “desespero” por parte dos locais de conseguir gente pra sua lojinha, pro seu transporte, pro seu restaurante, que me dói. Enfim, o que eu ia dizer é que eu espero que ele repasse apenas 150.000 pro “boss” dele, e que fique com os 60.000 extras (demos mais 10.000 de gorjeta) pra ele e pra família. Mas como eles parecem ser honestos, fico até na dúvida!


Outra coisa que me chamou a atenção é a raiva que ele tem de muçulmanos, ele que vive no país muçulmano mais populoso do mundo (embora todo país árabe seja muçulmano, nem todo país muçulmano é árabe)! Sim, a ilha de Bali é de maioria hindu e agora nas férias vem muita gente da ilha de Java pra cá, todos muçulmanos, e o Dira deixou bem claro, mesmo no seu parco inglês, que não gosta nem um pouco deles, que eles brigam muito, que colocaram as bombas em Bali nos anos de 2002 e 2005, que não tem nada contra os chineses e os cristãos, mas que preferia que os muçulmanos não viessem pra cá.


Aí que esse papo todo me fez pensar várias coisas. Primeiro, referente à minha primeira observação – o contraste entre pobres e ricos, a exploração dos pobres – pensei que talvez nisso Indonésia e Brasil não difiram muito. Mas apesar desta minha constatação, hoje, meu segundo dia aqui, me senti triste com a pobreza, com o lixo na rua, com a injustiça do mundo... eu que sou do Brasil, outro país de contrastes...


Já no quesito religião, pensei que o Brasil tem isso de bom: tolerância religiosa! Com toda a variedade de religiões que temos no nosso país, conflitos ou desacordos violentos entre diferentes na crença não é um dos nossos problemas. Aqui na Indonésia e em outros países do Sudeste Asiático, é um item constante nos relatórios de direitos humanos de ONGs como a Human Rights Watch ou Anistia Internacional. No caso específico da Indonésia, a questão envolve restrições que o governo impõe a atividades religiosas que não condizem com os mandatos das seis religiões oficiais do país (Islamismo, Protestantismo, Catolicismo, Hinduísmo, Budismo e Confucionismo).


Aí depois eu fiquei pensando na questão dos muçulmanos. O “mundo muçulmano” é enorme e variado! Então tem-se que tomar muito cuidado com as generalizações. Mas quando muçulmanos radicais e intolerantes têm atitudes radicais e intolerantes, é muito fácil cair na generalização e falar que “os muçulmanos são isso ou aquilo”, “são violentos e terroristas”, etc. E eu acho que ao fazer este tipo de afirmação comete-se uma injustiça com a maioria dos muçulmanos... Eu atribuo parte disso à mídia, às notícias que nos chegam, mas no caso do Dira, o motorista do táxi, não sei se a mídia está envolvida... Tenho a impressão que é mais questão de experiência pessoal... E então lamento essa rixa, pra falar de forma leve, entre hindus e muçulmanos que há em alguns países do Sudeste Asiático...


De fato, Indonésia é um país bastante religioso e Bali mostra bem isso. Todos os dias os balineses colocam uma oferenda para os deuses na frente das suas casas ou lojas; to-dos-os-di-as! São florzinhas, algum pedaço de comida (já vi bolachinha, fruta, arroz) e até cigarro! Nos explicaram que é pra trazer boa sorte! E boa sorte é o que eu desejo a este país dos contrastes na resolução de seus conflitos! Selamat Tahun Baru (Feliz Ano Novo) pra Indonésia e pra todos nós!

P.S. Só pra esclarecer, depois do Dira pegamos vários outros táxis e nenhum dos motoristas tinha raiva de muçulmano! Bem que a gente logo notou que o Dira era um balinês mais nervoso, como eu disse antes. E mesmo os conflitos ligados a intolerância religiosa aqui ocorrem em partes específicas da Indonésia. Bali é uma ilha pacífica, linda, interessante e, sim, de contrastes! (em 7/1/2011)

7 comentários:

  1. bem legal teu texto parabens!!!!!beijo, um 2011 estupendo e aproveita muuuuuiiiittttooooo! beijao! Mperna

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  2. Que experiência bacana!! E isso é só o comecinho da viagem, hein?! Continue atualizando suas aventuras pelo mundo!
    Bom 2011 pra vocês!
    Antônio Krieger

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  3. @Perna e Antonio Queridos!! Continuem me visitando aqui no blog e me acompanhando! Nao deixem de ler o PS que acabo de acrescentar! bjssss

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  4. Dú, adorei ler seu texto, aliás, todos os seus textos, escreve mais, estou te acompanhando sempre! Beijão

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  5. Querida בן

    Adorei o texto e estou te seguindo religiosamente.

    Aguardo ansiosamente a sua visita, so' mais 4 meses :)

    Bjs
    בן
    xx

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  6. Dulce, viajar é viver as diferenças, o que nos traz tolerância, muitas vezes, e compreensão do que nos cerca. Viva cada momento dessa viagem como se fosse o último! Vale a pena. Beijosssss

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  7. @Ilana, Ana, Tati: Adorei escontrar comentário de vcs! Voltem sempre! :) bjsss

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