terça-feira, 18 de janeiro de 2011

As crianças de Lombok


Saímos de Bali e viemos à ilha vizinha: Lombok. Diferente de Bali, Lombok é muçulmana. A lingua predominante aqui não é o Indonesiano (ou Bahasa Indonesia), mas o Lomboquês (ou Bahasa Sasak).

Lombok é incrível em vários aspectos: praias paradisíacas de areia branca fina, coqueiros, e bem rural (ao menos no Sul, onde estamos, Kuta Lombok). No caminho pras praias de surfe, agora de motinho pelas ruas esburacadas, a gente passa por casebres que não devem ter nem luz elétrica, com suas cabras, galinhas, vacas...

Eu pensei que não fosse ter nem internet aqui (pois, como já tinham nos informado, não tem caixa eletrônico, por exemplo), mas na vilinha onde ficam as acomodações já tem internet broadband! Ou seja, se tem algo que Lombok tem em comum com Bali é o contraste. De um dos lados do lixo acumulado em terrenos baldios, vê-se cabras e crianças brincando; do outro, placas de imobiliárias vendendo terras já loteadas ou propaganda de resorts.

Falando nas crianças, é nelas que eu quero me deter neste post. Passou da 1h da tarde, hora em que elas saem da escola, tu colocas o pé na rua e vêm várias tentar te vender pulseirinhas. Elas são fofas, de 4 ou 5 anos de idade a uns 12, e falam inglês! Normalmente elas estão em pequenos grupos, e tem uma que domina mais o idioma. Aí sempre rola um papo, é claro! Elas perguntam o teu nome, te dizem “nice to meet you”, te perguntam de onde és!

Hoje uma menina, de nome Fika, quando estávamos no restaurante, veio sozinha. Aproveitou uma brechinha do dono, que não deixa elas entrarem e “incomodarem” os clientes, e veio direto pra nossa mesa. Ela se apresentou, perguntou nosso nome, nos deu um aperto de mão. Gente, muito linda ela! Eu a elogiei, é claro, e ela disse que eu também era beautiful; depois elogiou meus brincos (em formato de flor, produzidos na fábrica do meu primo Alexandre), e eu já tinha me derretido por ela. Mas aí o dono chegou e pediu pra ela sair. Eu decidi que vou comprar uma pulseirinha dela na próxima vez que a encontrar!

Depois, estávamos passeando pelas lojinhas (pequenas casinhas feitas de bambu ao longo da praia onde vendem vestidos, shortinhos, etc.) e um menino de uns dois anos disse “hello, miss!” com um sorriso, enquanto o irmãozinho dele de meses, sentadinho no chão de concreto, abanava.

Num café, enquanto tomávamos uma Bintang, a cerveja daqui, na beira da praia, outras duas meninas se aproximaram, e desta vez era a pequeninha, de uns 4 ou 5 anos, que mandava no inglês. Que pronúncia, que olhar vivo, que fofa ela! Seu nome é Mary e o da irmã, Lisa. Chama a atenção como várias aqui têm nome americano... Já conheci Tina, Anne, Julianne...

E agora há pouco, para completar, estávamos sentados tomando um cafezinho na varanda da nossa acomodação – uma homestay, que é das acomodações mais baratas por aqui –, três meninos entraram e vieram ter com a gente. Umas figuras eles! Principalmente o dominante. Todo estiloso, cabelo arrepiado com gel (ou algo equivalente), um sorrisão! Nos ensinaram umas palavras de Lomboquês: como dizer “não, obrigada”, “amanhã”, “não tenho dinheiro”... E repetiam até que a gente falasse certinho! Na real, quando eles estavam entrando eu pensei: “até aqui?!! Bem na hora do cafezinho...!”. Mas no fim o papo foi ótimo! Eu sempre pergunto se eles vão à escola, e até hoje, que é sábado, eles foram; seis dias de escola na semana (amanhã é dia de feira, nos explicaram). Aliás, é na escola que eles aprendem inglês, além do Indonesiano e do Lomboquês, por certo. Nos disseram, bem orgulhosos, que falam três linguas!

Ele (esse acabei esquecendo de perguntar o nome; ele também o nosso) falou que gostou da nossa música (era o grupo espanhol Café Quijano), perguntou quanto eu paguei no Ipod (sem usar a palavra Ipod), eu respondi que foi presente da minha mãe, disse então que achou very nice e que adora cantar. Parei a música e pedimos: canta pra gente! Ele pensou um segundo, buscando a palavra, e disse apenas: shy!

Que encanto essas crianças! Sério, eu tenho vontade de comprar uma pulseirinha de cada uma delas! Me dá uma pena de elas estarem trabalhando... Aí o Decarlos diz que a situação das crianças pobres no Brasil é bem pior, que ao menos aqui elas não estão pedindo esmola no sinal ou tentando conseguir dinheiro pra manter o vício dos pais... que o dinheiro vai pra comprar livro pra escola, como elas dizem, ou pro sustento da família, e que elas não estão num trabalho pesado, numa fazenda ou quebrando pedra, como já saiu na tevê... Mas mesmo assim me dói. Elas tinham que estar brincando, curtindo a vida... mas a vida não permite...

Bom, esse foi só o nosso primeiro dia aqui. Se continuar assim, amigas, preparem-se: vai ser pulseirinha de Lombok de lembrança pra todo mundo!

P.S.: Hoje, domingo, o De foi pro surfe e eu fiquei pra ir na feira. Quando ele tinha acabado de sair, eu esperando o café, adivinhem quem entra e vem falar comigo? Fika! Aí fiquei um tempão conversando com ela, batemos fotos, e comprei duas pulseirinhas de conchinhas. Quando eu ia bater a foto, perguntei se tinha problema; ela disse que não, que estava happy, que eu era very friendly! Depois de ir no market, que foi uma experiência e tanto, decidi ir ler na praia. Mal me sento e quando me dou conta, tem sete meninas na minha volta, entre elas a Fika. Ficamos mais de uma hora ali conversando! Claro que elas queriam mesmo era vender pulseirinha, mas eu vou mudando de assunto! A Fika é uma fofinha, com certeza a minha preferida! Sem ilusões, tenho que dizer que às vezes a insistência de algumas cansa um pouco... Ainda assim, eu gosto delas!

9 comentários:

  1. Ah, a segunda pulseirinha é pra mim?! Que bom. ;)

    As fotos são de vcs, Du? Adorei a das três menininhas. Imagina quantas fotos vcs não vão ter ao final??

    bjo
    olga

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  2. Dulcita!
    Que máximooo!!! Adoreeiii!!!
    Essas viagens mais "exóticas" são realmente as mais surpreendentes no quesito "pessoas". Não temos idéia da diferença que existe entre a nossa pobreza e vida urbana e a vida que se leva nestes locais onde se "falta" tudo, mas se vive ou sobrevive bem.
    Nega, não sei se estou certa, mas Julianne e Anne são nomes de origem francesa. Existe essa mistura porque a corte francesa e inglesa era da mesma família, ou seja, tanto uma quanot a outra estão ligadas, por isso que a língua inglesa e francesa têm tantas palavras em comum. Bom, boa viagem!!! Beijos com saudades!

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  3. @Olga: querida!! Estou usando a pulseirinha, mas se me derreter com alguma criança de novo compro uma pra ti! hehe E sim, as fotos são nossas! :)

    @Gabs: POis então, na realidade acho que elas inventam novos estrangeiros, sejam americanos ou franceses, pra ficarem mais familiar ao turista!! Oooohhhhhhh! :) bjs, gata!

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  4. Dulce, me derreti por essas crianças e me emocionei ao pensar se meus filhos estivessem nessa situação. Mas há o lado bom, que no fundo também importa: com o pouco que têm, elas sorriem e, se assim o fazem, são felizes. Uma ótima reflexão aos fúteis consumistas a nossa volta. Beijos com saudades.

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  5. sempre bom ler teus textos, consegues dar uma otica bem interessante dos locais, segue.... beijao pra vcs!!

    mperna

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  6. Amiga querida, consegui ler tudo!!! (tarefa nem sempre fácil por agora... :PP)
    Atrativo e interessante, adorei a Fika também, e quero pulserinha, tá?
    Bjsssssssssss pros dois.
    DANI

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  7. Legal, tô acompanhando a viagem de vcs. Grande abraço para o irmão Testa (De Carlos). Espero que quando passarem pelo Brasil me dêem um toque que vou a Floripa colocar o papo em dia.

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  8. Du, que delícia ler esse post! O jeitinho que você escreveu, parecia que você estava aqui do ladinho, contando tudo pessoalmente! Bateu umas saudades boas de você! :)

    Sobre as crianças de Lombok, elas são mesmo umas fofas... e como são lindas né?! Mas engraçado que a minha impressão sobre a venda de pulseirinhas foi bem diferente da tua ou do De.. me pareceu muita exploração do trabalho das crianças e eu não acreditei que o dinheiro seria mesmo pra comprar livros ou que quem fazia as tais pulseiras era o pai/tio/primo delas. Apesar delas serem umas fofas e sempre sorridentes, eu saía dos papos com elas com a sensação de que elas têm um olhar um pouco triste.. principalmente as meninas. Será que foi só impressão minha?

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  9. @Tati, Perna, Dani: Meus importantes! que bom ter vcs por perto!
    @Ibirá: Que massa que tas nos acompanhando, Ibirá. No Brasil, em junho. O Testa te liga! Valeu!
    @Cris: Eu me perguntei sobre isso tb, Cris. MAs não acho que tenha um boss que empregue as crianças, acho que o dinheiro vai pra família delas. Nem todas me falavam em livros pra escola, algumas falaram que era pra comida ou pro que precisassem. Tb não achei elas tristes;perguntei pra várias se gostavam e elas disseram que sim porque estavam sempre junto com as amigas. De qquer forma, acho que elas não deviam nem estar trabalhando, é claro!

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