segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A Índia do Sikhismo

Cinco horas separam a Índia tibetana da Índia do sikhismo. E lá fomos nós pra Amritsar, no Estado de Punjab.

A cidade em si é uma loucura: cheia de gente, carro, tuk-tuk, poeira, vendedor... Mas ao se entrar no complexo do Templo de Ouro, a realidade muda. Parece que se passa por um portal: das ruas empoeiradas para grandes corredores de chão de mármore limpíssimos; da multidão aglomerada para pessoas caminhando calmamente no espaço; do barulho das buzinas para o silêncio quebrado apenas pela música ao vivo direto do Templo de Ouro.

Que prazeroso era estar lá! Para adentrar, era necessário cobrir a cabeça e estar descalço. Inclusive tinha-se que lavar os pés nas pequenas “piscinas” de água que havia nas diferentes entradas.

O Sikhismo é uma religião interessante; a quinta maior do mundo. Foi fundada no final do século 15 pelo Guru Nanak, tendo como marco o momento em que o Guru, depois de ter sumido por dias, reapareceu e falou: “Não há hindus, não há muçulmanos” – diz-se que ele tinha 30 anos, sendo então 1499. Prega a igualdade de todas as crenças, também entre homens e mulheres, o fim das castas na Índia, a vida honesta (truthful living), a meditação, entre outras coisas. Me chamou a atenção o fato de o sikhismo ser contra o casamento de crianças, num país em que isso acontece com certa frequência. Os homens não cortam os cabelos e os prendem num turbante, que varia em cor, tamanho e até estilo. Além disso, há outras quatro coisas que um sikh deve ter consigo: um pente pequeno, uma adaga, uma pulseira de ferro e uma roupa de baixo especial (que é na realidade um tipo de short).

O Templo de Ouro fica no meio de um lago, considerado sagrado para os sikhs, que nele se banham para se purificar. Ir ao Templo de Ouro é como ir a Mecca para os muçulmanos – todos querem fazê-lo ao menos uma vez na vida.

Anexo ao complexo do templo, há um refeitório enorme aberto a quem quer que queira comer aí, independente de religião, nacionalidade, casta, gênero ou qualquer outra qualificação. O templo também oferece acomodação de graça para os peregrinos, venham eles de onde vierem. Deve haver uns cinco prédios de lodging, um deles específico para turistas. Eu e Decarlos até fomos lá conferir os aposentos para quem sabe ter a vivência de dormir uma noite no templo, mas fui eu quem não quis trocar o quarto de hotel relativamente limpo por um salão úmido cheio de camas grudadas uma na outra, com um único banheiro cujo cheiro que chegava ao quarto não me foi, digamos, convidativo. Pensei que me bastaria a experiência de visitar o complexo do Templo de Ouro, e nisso não errei!

O que vivemos nas várias horas que passamos lá dentro, em diferentes dias, foi de fato das experiências mais especiais que tivemos na Índia! Como eu mencionei antes, por pregar a igualdade das religiões, todas as pessoas são muito bem-vindas no templo sikh. E nós, por sermos ocidentais, acabávamos chamando a atenção! Muitos indianos, das mais diferentes idades, nos abordavam – alguns pediam para bater fotos (muitas vezes com a nossa própria máquina!), as crianças queriam apenas dizer “hello” e um aperto de mão; teve um grupo de seis senhoras que queriam abraços; outros, sem falar inglês, trocavam somente um sorriso (e quem precisa de outro idioma?) ... Mais que a riqueza, o ouro, o brilho do Golden Temple em si, toda essa interação é que foi marcante, especial, divina até!

A oração do crepúsculo, com o complexo todo iluminado com aquele brilho dourado que só a luz do fim de tarde tem, também é marcante. A devoção, o silêncio, a meditação, e ao final todos se ajoelham, fazendo sua reverência em direção ao templo. É mágico!

Há muitos anos, quando eu via aquele homem de turbante caminhando na avenida Beira-Mar de Florianópolis, jamais eu poderia imaginar que o templo da sua religião se tornaria um dos lugares que mais gostei de ter visitado na vida!